Tem gente que evita falar de coisas ruins e remoer sentimentos negativos. Não é o caso de Matt Berninger, líder do The National. Drama é sua matéria-prima, e ele deu um jeito de renovar as fontes de tensão no sétimo disco, "Sleep well beast", que a banda de indie rock mostra no Lolla SP.
O The National toca no sábado, às 18h20, no festival em Interlagos. Veja a programação completa.
"Sleep well beast" venceu o Grammy de Melhor Álbum de Música Alternativa. Ele foi escrito no meio de outra vitória: de Donald Trump. Matt é democrata, ativista de causas sociais e considerou o resultado "vergonhoso". O álbum tem referências políticas e traz este clima sombrio pós-eleição.
Além de Matt, o The National tem dois pares de irmãos - Aaron e Bryce Dressner nas guitarras; Scott e Bryan Devendorf no baixo e bateria. Em entrevistas anteriores, o vocalista disse que as relações familiares ajudavam a criar uma tensão criativa na banda.
Mas, agora que estão mais velhos, os irmãos estão mais tranquilos. Uma pessoa comum ia curtir essa paz, mas Matt foi atrás de outro tipo de tensão. Resolveu chamar a esposa, a editora Carin Besser, para escrever músicas sobre prolemas de casais. Quanto mais drama, melhor.
G1 – Você deu uma entrevista para o G1 em 2011, e falou sobre a música ‘Fake empire’ ter virado um dos hinos da vitória do Obama. Você disse que a vitória dele era como ‘acordar de um pesadelo’. O sentimento agora com este novo disco é o de voltar a um pesadelo?
Matt Berninger - Não, com o Trump estamos acordando de um outro jeito. A vitória dele foi vergonhosa, deixou muita gente deprimida e confusa, pois ele obviamente é um grande criminoso. Mas eu acho que os EUA entenderam mais sobre si mesmos. Nosso sexismo, nosso racismo, o fato de tantos americanos aceitarem um presidente de padrões éticos e intelectuais tão baixos.
Mas isso também levou a coisas como as mulheres dizerem “basta”. Discussões sobre raça e outros temas estão melhores, mais intensas e honestas do que antes. De forma chocante, Trump promoveu um despertar sombrio.
G1 – A faixa-título, 'Sleep well beast' é muito sombria mesmo. Mas eu li você dizendo que, na verdade, ela é otimista e o 'monstro adormecido' do título são os jovens que podem acordar.
Matt Berninger - Sim. A geração mais nova que a minha, da minha filha, nem entende algumas coisas que temos que discutir sobre raça e sexo. E eles estão chocados com o que estamos fazendo com o planeta. Acho que as pessoas de 20 anos ou menos vão herdar problemas e dizer para nós: como vocês deixaram isso acontecer?
E eles já estão reagindo, como na Flórida [nos protestos de estudantes pelo desarmamento após massacre em Parkland]. Acho que as coisas vão mudar drasticamente, que os jovens vão virar a mesa, e fico otimista com isso.
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